O "Rio de Lagos"

A Ribeira de Bensafrim, assim designada por passar junto da povoação do mesmo nome, nasce na Serra de Espinhaço do Cão, a uma altitude de cerca 250m, e resulta da junção de várias linhas de água: ribeiras da Machada, da Corte do Bispo, da Sabrosa, da Candeeira, e de vários barrancos menores.
A sua foz surge como um acidente no arco desenhado pela orla da baía de Lagos, que conta quase 10 mil metros de extensão entre a Ponta da Piedade e a Ponta João de Arens.
Foi o seu pendor suave, de águas abundantes, aliado ao litoral muito recortado, polvilhado de pequenas praias e um amplo cordão arenoso que, cedo, atraiu a fixação humana, primeiramente em volta do seu estuário e posteriormente alargando-se à margem direita da foz.

A ribeira tem quase 20 Km de comprimento e um estuário assimétrico pois a sua margem direita, mais alta e mais avançada sobre o mar, corresponde a um maciço de rochas calcárias do miocénico; e a margem esquerda, mais recuada e mais baixa, constituída por arenitos vermelhos, é uma arriba fóssil que forneceu, por acção da erosão marinha, parte do areal da Meia Praia – também favorecido pelo acarreio das ribeiras de Bensafrim, de Odiáxere e de Alvor.
Se a História apresenta o Nilo como o dom do Egipto, não será exagero dizer que a Ribeira de Bensafrim foi o dom de Lagos, pois se a incerteza das actividades marítimas (dado o seu carácter imprevisível), ainda que facilitadas pelas condições naturais do estuário e da foz da ribeira – aqui denominada por rio –, não permitem alicerçar em si a vida económica e o desenvolvimento da urbe e do município, é o mesmo curso de água que potencia a produtividade agrícola nas zonas enriquecidas pelo aluvião.
Para além da pesca e da recolecção de marisco e bivalves, actividades comuns ao litoral costeiro e ao interior fluvial, era com a força da ribeira que se moviam as pás da azenha, e se recolhia, no estuário, o sal e nesse mesmo lençol de águas serenas se inchavam as madeiras para a construção naval.

Do colorido e melodioso afã ribeirinho, de barcos em descarga de peixe ou barcaças carregando cortiça e frutos secos, ao vaivém de escaleres apinhados de marinheiros das esquadras de guerra lusitanas e britânicas, até aos turistas que hoje se passeiam demoradamente na longa avenida marginal, ou que entram num bote para passeio às grutas, ou aos inúmeros iates que ora o sobem, ora o descem, o rio de Lagos continua a marcar o pulsar da cidade e das suas gentes.

Obras consultadas:
- CARDO, Mário – Lagos Cidade, Subsídios para uma monografia – Grupo dos Amigos de Lagos, Lagos 1998
- GOMES, João Araújo – Estuário da Ribeira de Bensafrim, Leitura geo-arqueosismológica – Tese de Mestrado – UL 2010

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