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Lanchas da sacada do Sotavento (IV)

Recebi do Arquitecto José Veloso a mensagem e fotos abaixo, que agradeço, nomeadamente pelo facto de se tratar de mais uma achega à história destas embarcações do Algarve e, especialmente, por ser proveniente de uma das pessoas mais autorizadas na abordagem deste assunto. Em resultado das informações constantes na referida mensagem retirei dos artigos anteriores a referência, errada, à "canoa algarvia". Reitero os meus agradecimentos ao interesse demonstrado e à colaboração prestada.


«Caro cais do sul

Uma correcção, as lanchas da sacada não são canoas, estas têm um casco diferente, que não tem painel de popa, mas sim roda de cadaste, que era também conhecida, no barlavento, por “popa de canoa”.

A lancha de sacada do sotavento era também chamada de “saveiro”, quando tinha a característica de não ter reforço de verdugo na borda, por razões de manter o peso o mais baixo possível. A lancha que é mostrada como “lancha de sacada do sotavento”, é um saveiro, que fotografei na Fuzeta, em 1957. Repare-se que mesmo os bancos são muito baixos, e têm claramente uma função estrutural para o casco.

Sobre a lancha de sacada, mando o desenho das linhas do casco, que fiz sobre uma lancha construída no estaleiro de mestre Paco, em Faro, cerca de 1920, a “Benvinda”, que serviu para tirar o molde em fibra de vidro, na fábrica APM, em Lagos, donde saíram 6 cascos. A “Joana”, construída pelo Jeannot, a “Belaluisa”, construída por mim, a “Filoeu”, construída pelo Manuel Catarino, a “Mara II”, construída pelo Luiz Taquelim da Cruz, o “Larião”, construído para o Jorge Vieira e o Joaquim Carmo, e outro, para um holandês, que não o acabou e está abandonado, em Lagos.

As fotografias, são da única de aparelho latino, a “Joana”, na primeira saída, com vela de experiência, e da “Belaluisa”, com aparelho de “cutter”, que desenhei.

Cumprimentos pelo blog, sempre há quem se interesse pelos perdidos barcos de vela de trabalho do Algarve, e por barcos de todo o mundo.»





A "Joana", na primeira saída, com vela de experiência


A "Belaluísa" a navegar



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A Lancha da sacada, do Sotavento (II)

"Mara" é outro dos exemplares da Lancha da Sacada, do Sotavento. Talvez uma das melhores opções de aparelhagem de entre os seis exemplares construídos. Este navega por cá.


A Lancha da sacada, do Sotavento



«Durante largos anos deambulamos pela costa do Algarve, principalmente pelo Sotavento, na busca de um barco de pesca à vela, do tamanho e características que nos interessavam, e em condições que nos permitissem comprar, para transformar para passeio e pequenas viagens.
Idealmente, o tamanho teria que ser de 7 a 8 metros fora a fora, mas as características era obrigatório que fossem as dos barcos do Sotavento, que tinham uma diferença básica dos do Barlavento, as quilhas profundas. A razão desta diferença era que os barcos do Barlavento não tinham grandes exigências para boa navegação à bolina, para a qual é necessária uma quilha profunda. Isto porque os ventos dominantes locais, do quadrante norte, permitiam a navegação paralela à costa, portanto quase sem bolinar. Além disso, os barcos precisavam de calar o mínimo de água, para poderem varar na areia das praias das povoações. Com estas duas condições, as quilhas eram baixas, o que, por outro lado, era essencial para manter os barcos direitos junto das praias para carga e descarga, e para serem puxados para abrigo de segurança, em seco na praia, na falta de portos.
Mas no Sotavento, as quilhas profundas eram indispensáveis para que fosse muito eficaz a navegação à bolina, necessária nos apertados canais dos portos interiores da Ria Formosa. Como os barcos dispunham de acesso aos cais de águas profundas ou, querendo, podiam ficar fundeados a flutuar, aceitavam aquelas quilhas.
Nestas condições, os construtores do Sotavento tinham-se esmerado, desde tempos remotos, no apuramento das obras vivas dos barcos para a navegação à bolina, em que atingiram a quase perfeição, com óptimas condições marinheiras para todo o tipo de mareações.
Era um desses barcos que ambicionávamos conseguir, Eram as famosas lanchas da sacada do Sotavento. E, entre elas, as mais famosas eram as da Fuzeta. Mas estes barcos tinham desaparecido, com o advento dos motores fora de borda.
No Barlavento, como o desenho tradicional dos cascos permitiu a fácil adaptação para estes motores na popa, os barcos mantiveram-se e continuaram a ser construídos.
Pelo contrário, no Sotavento, não só a forma das saídas de água, à popa, dificultava a colocação dos motores, exigindo grandes cortes no painel, como as quilhas profundas já não faziam sentido e, na prática, reduziam a capacidade de manobra, a motor, em águas restritas. Assim, naturalmente, esses barcos foram abandonados e deixaram de ser construídos.»

In “Lagos e Outras Terras – memórias soltas e alguns pensamentos acerca de gentes da borda d’água, mar, rios e barcos” de Arq.º José Veloso, Lagos, Outubro 2008.




O "Larião", tal como a "Joana", é um dos seis exemplares construídos em Lagos, em fibra-de-vidro, a partir do desenho executado pelo Arquitecto José Veloso.
Este, infelizmente, parece que já não voltará a navegar, jazendo no "cemitério" local dos barcos abatidos ao serviço.
Ainda naveguei neste barquinho, pelo que é com alguma tristeza que o vejo neste estado.