do Luís

Como quando do mar tempestuoso
o marinheiro, lasso e trabalhado,
de um naufrágio cruel já salvo a nado,
só ouvir falar nele o faz medroso,

e jura que, em que veja bonançoso
o violento mar e sossegado,
não entre nele mais, mas vai, forçado
pelo muito interesse cobiçoso;

assi, Senhora, eu, que da tormenta
de vossa vista fujo, por salvar-me,
jurando de não mais em outra ver-me:

minha alma, que de vós nunca se ausenta,
dá-me por preço ver-vos, faz tornar-me
donde fugi tão perto de perder-me.

Luís Vaz de Camões

3 comentários:

Carlos Pires disse...

É uma boa descrição da atracção de alguns políticos portugueses pelo abismo (=gastar acima das possibilidades, endividamento, deficit...)

francisco disse...

A ausência de inteligência, de uma réstia, que seja, da inteligência do poeta, é que leva este povo a desmentir o vate "jurando de não mais em outra ver-me". E continuaremos repetindo os mesmos erros, como muares, em círculos, em torno de uma nora.

Saúde.

Luis Nadkarni disse...

A "atracção pelo abismo"...deve ser levada em consideração...
Cumprimentos ao Carlos Pires.