coisas do fundo do baú (3)



A Fragata D. Fernando
(artigo publicado na Revista Occidente Nº 363 em 21 Janeiro de 1889)

«É hoje o navio mais antigo da armada portugueza.
Foi construído em Damão, na Índia Portugueza, em 1843. É todo de madeira de teka e fabricado com tal solidez que ainda hoje resiste valentemente, depois de quarenta e cinco anos de serviço.
A sua arqueação é de 1.406,272 metros cúbicos, e monta dezenove boccas de fogo.
Tem sido quase sempre empregado no serviço de transportes, conduzindo tropas e material, tanto para as possessões portuguezas da Índia, como da África.
Em 1852 conduziu à ilha da Madeira a imperatriz viúva de D.Pedro IV e a sua filha D. Amélia, que ali ia procurar alívio ao padecimento pulmonar de que falleceu na mesma ilha.
Nesta viagem foi a fragata D. Fernando acompanhada pela Corveta D. João e pelo vapor de guerra D. Luiz.
Na viagem em que partiu de Lisboa a 18 de Março de 1861, para transportar tropas a Moçambique, desarvorou no regresso d’essa viagem, vindo de Moçambique para Mossamedes, no dia 9 de Março de 1862. Em consequencia d’este desastre voltou a Moçambique em 25 do mesmo mez, a reboque do vapor de guerra inglez Orestes, que lhe pegou um pouco ao norte d’este porto.
Reparou então a avaria sofrida mastreando provisoriamente e assim voltou a Lisboa, fazendo escala por Mossamedes, Benguella e Loanda, dando entrada no Tejo a 12 de Maio de 1863, a reboque da corveta Sá da Bandeira.
A fragata D. Fernando apesar de ser um navio de sólida e resistente construção, não tem grandes qualidades de andamento, e essa falta torna-se tanto mais notada em presença dos barcos a vapor que pozeram fora de combate a navegação á vella.
Estas rasões determinaram o governo a empregar a fragata D. Fernando no serviço da Escola Pratica de Artilheria, serviço em que se acha desde 1866.
O actual commandante d’este navio escola é o sr. Rodrigo Augusto Teixeira Pinha, capitão de fragata, o qual desempenha esta commissão desde o referido anno de 1866. O segundo commandante é o capitão-tenente sr. Carlos Augusto Schultz Xavier.
Tem três primeiros tenentes instructores que são os srs. António d’Almeida Lima, Ernesto Augusto Gomes de Sousa e António Augusto Alves Loureiro.
O médico é o sr. Adolpho de Mello Moraes Sarmento, e o oficial de fazenda sr. Carlos José da Silva Rego.
Completam o pessoal instructor da escola dois sargentos, um fiel e quatro cabos.
A guarnição d’este navio escola é de 142 praças, mas actualmente só tem 115.»

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