remendando rede


A rede

«Para um pensador será uma construção harmónica mas intrincada que encerra em cada espaço um buraco de nada e que é, simultaneamente, um universo de paradigmas metafísicos; para um pescador não será mais do que a armadilha de fios de odor mesclado de maresias e alcatrão que lhe dá o sustento à força de braços que a despem e vestem ao mar, como se de uma camisa de noite se tratasse; e para o peixe, o garrote para execução atroz por estrangulamento ou asfixia, enleado nesses buracos que eram de nada mas que afinal são muito, em abraço apertado e mortal. Para outros, os veraneantes por exemplo, não deixará a rede de sugerir momentos de ócio e descontracção, imaginando-se deitados numa cama feita dessa imensidão de nós, suavemente embalados pelo ritmo lento que anima os corpos em vilegiatura.»
(...)
«ocupação paradoxal em que os mais atinados artesãos fecham buracos fabricando outros em seu lugar»

F.Castelo in conto Claustro Fobias

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