Como quando do mar tempestuoso
o marinheiro, lasso e trabalhado,
de um naufrágio cruel já salvo a nado,
só ouvir falar nele o faz medroso,
e jura que, em que veja bonançoso
o violento mar e sossegado,
não entre nele mais, mas vai, forçado
pelo muito interesse cobiçoso;
assi, Senhora, eu, que da tormenta
de vossa vista fujo, por salvar-me,
jurando de não mais em outra ver-me:
minha alma, que de vós nunca se ausenta,
dá-me por preço ver-vos, faz tornar-me
donde fugi tão perto de perder-me.
Luís Vaz de Camões
3 comentários:
É uma boa descrição da atracção de alguns políticos portugueses pelo abismo (=gastar acima das possibilidades, endividamento, deficit...)
A ausência de inteligência, de uma réstia, que seja, da inteligência do poeta, é que leva este povo a desmentir o vate "jurando de não mais em outra ver-me". E continuaremos repetindo os mesmos erros, como muares, em círculos, em torno de uma nora.
Saúde.
A "atracção pelo abismo"...deve ser levada em consideração...
Cumprimentos ao Carlos Pires.
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