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foto esquemática reeditada em 2018.08.25 - a substituir futuramente por grafismo mais explicativo |
Digo que, perdida ou mal
interpretada a simbologia das decorações nos barcos de pesca, a estrelinha
desenhada na cara do barco é uma repetição do símbolo "olho de hórus"
que já está estilizado acima pelos dois triângulos (brancos) e círculo
(vermelho) ao centro.
O Olho de Hórus, “udjat”, proveniente
da cultura pré-clássica egípcia espalha-se por todo o mediterrâneo, chegando até aos confins da Península Ibérica, já em contexto geográfico atlântico, por via
dos fenícios que o haviam adoptado com semelhante significado: representando
valores importantes como força, coragem, protecção e saúde.
«Já desde tempos imemoriais
(existem vestígios, na civilização egípcia) que o barco é considerado um ser
vivo, um ente anímico e, como tal, com determinadas tradições, assim tratado. Durante
a própria construção, em certas zonas do país, sobretudo nortenhas, ainda se
usam determinados sinais protectores, para que esta corra sem incidentes, protegida
de maus-olhados ou malquerenças. (…) Os pescadores do centro e sul do país
chamam cara do barco à zona da proa, de um e outro lado do casco,
zona, normalmente destacada por pintura a cor diferente e guarnecida, tantas
vezes, com a imagem de olhos. O barco com olhos veria melhor o
caminho, em dias de nevoeiro e encontraria mais facilmente os bons pesqueiros?
(…). O significado dos olhos, ainda que estes, no imediato, com feição
mais restrita de amuletos contra o mau-olhado, não pode dissociar-se da
sacralização do barco pela sua consagração a uma divindade. Do antigo Egipto,
adoptaram-no os fenícios, os gregos, os romanos e, assim por diante, até os
portugueses, em cujas embarcações o encontramos ainda.»
in http://marintimidades.blogspot.com/2010/03/signos-pictoricos-nos-barcos-i.html
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picado da net |
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proa do caíque Bom Sucesso - picado da net |
Presumo que esta representação pró-antropomórfica do Olho de Hórus conheceu uma evolução estilizada pela mão dos
árabes, a partir do estabelecimento do Islão, já que esta religião proíbe a
representação antropomórfica das divindades. Aceitando essa hipótese, não
parece descabido que tenham adoptado o símbolo como “olho de Alá” fazendo-o representar
através de figuras geométricas que consistiriam, basicamente, num círculo
ladeado por dois triângulos.
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foto do autor |
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foto do autor |
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galeão do sal picado de: http://www.sal.pt/m9_cruzeiros/cruzeiros_p_sado_galeao_idadedeouro.shtml |
O símbolo apotropaico aposto nas
proas dos barcos de pesca irá, assim, manter-se, e até repetir-se, nos casos em
que surge simultaneamente estilizado por geometrismos e pela representação pró-antropomórfica, comummente com a primeira representação mais acima, perto da
borda e a segunda mais abaixo, na cara do barco; ou quando se repete exclusivamente com recurso aos motivos geométricos (losangos em cima, estrela em baixo)
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picado de: https://pt.123rf.com/photo_43535824_fishing-boats-on-the-beach-algarve-portugal.html?fromid=SW9VbHdvTk1VS2hFMWxFVCtmdnRBQT09 |
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lancha da xávega da Meia Praia - foto do autor |
Intuo também que essa estilização
conheceu novas evoluções, para estrelas, estrelas dentro de círculos, losangos,
flores, olhos de peixe, sempre apostos à proa, a par de ganhar também novos significados
religiosos ou pagãos. Assumpção que, no entanto, carece de investigação que a confirme.
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foto do autor |
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picado de: https://www.colourbox.com/image/portuguese-traditional-boat-in-tavira-close-up-image-17651202 |
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foto do autor |
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picado de: https://www.alamy.com/stock-photo/portugal-algarve-albufeira-fishermans-beach.html |
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foto do autor |
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foto do autor |
Afigurando-se, hoje, a sua aplicação mais como simples motivos decorativos e até folclóricos, o facto é que estes símbolos mantém intactas as suas formas e algum do seu simbolismo apotropaico inicial: Protecção contra o mau-olhado e a má sorte; protecção no regresso a bom porto; guia para bons pesqueiros; etc.
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foto do autor |
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Muleta do Seixal - imagem de: https://www.pinterest.pt/pin/389772542744213689/ |
«A nau “Frol de la Mar”, de Estevão da Gama, da rota da
Índia em 1502, a mesma nau onde Afonso de Albuquerque viria a naufragar quando
regressava da conquista de Malaca, era “alterosa em castelos e a mais
formidável”, segundo consta do “Livro das Armadas”. Embora o desconhecido
autor desse códice se movesse dentro da órbita dos iluminadores e portulanos
das cartas de marear da época – as reproduções dos navios eram decalcadas sobre
uma escassa dezena de modelos, modificando-se-lhe apenas os nomes -
verifica-se no entanto haver em uma das reproduções da “Flor do Mar” dois olhos
abertos e pintados nas obras mortas em cada um dos costados do castelo da
proa. Ora este símbolo apotropaico, apesar da sua vulgaridade figurativa –
não consta em outras gravuras ou desenhos conhecidos das naus e caravelas
portuguesas dos séc. XV e XVI, mas aparece ainda hoje frequentemente em
identica composição e disposição nos barcos de pesca da nossa orla maritima e
na rede fluvial, tanto nos saveiros da Costa Nova (Ílhavo), como em Sines,
tanto nos caíques da Costa da Caparica, da Nazaré e do Garbe lusitano, como nas
fragatas, faluas e varinas do Tejo.»
Jorge Filgueiras, Lisboa, aos 14
de Fevereiro de 1977.
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Nau Frol de la Mar - imagem de: http://olhar-aeminium.blogspot.com/2017/01/a-bordo-da-nau-frol-de-la-mar-pelo.html |
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